sábado, 29 de setembro de 2007

O círculo do conhecimento e da eternidade

Herculano era varão reto, justo. Andava com D-us e em instâncias segundas e terceiras também com a ciência, mas não era um xiita.

No seu curso de exatas não via problema algum em abrigar duas visões tão distintas do mundo. Pelo contrário, ele as via totalmente distintas, pois centrava-se, quase sempre, nos capítulos mais recentes da filosofia e da ciência contemporânea. Mais precisamente nos últimos 40 anos que se passavam desde o início da revolução industrial.

Assim Herculano explicava coisas de uma forma, outras de outro, segundo o tempo que havia passado.

Era muito metódico. Entre as maluquices que ele mais cismava, havia uma que até o contradizia enquanto cientista:

Envolve tantos paradigmas uma afirmação - pensava ele - A natureza é tão inconstante e o que sabemos é demasiado pouco se comparado a toda a profusão de variedades e detalhes que D-us fez.

Não controlava a ira nas discussões mais humanas, mais psicológicas. Rejeitava a psicologia como ciência, dizendo:
- Somos seres pensantes que se diferenciam dos outros pelo dom do pensamento. É tão pequena a parte da consciência que conhecemos. Mais ainda é a ligação abstrata entre a mente e o cérebro. Não é certo fazer afirmações às cegas sobre o que conhecemos muito pouco.

Quando pensamos é o embasamento da teoria que nos diz o rumo certo. Com uma base insolúvel dentro das outras ciências, como afirmar com tanta convicção?

Num sábado ao final da tarde, o cientista de D-us cerrou seus olhos até a linha do horizonte, onde esmaecia o último raio de sol. Voltou pra casa e nem deu bola quando sua mulher do quarto o chamou. Trancou-se no banheiro e ficou por 20 minutos contemplando o vaso sanitário.

Puxou a descarga e viu: Era caótico o movimento da água dentro louça. A ciência dos homens não explicava o 'sopro divino de vida nos narizes' assim como não explicava o movimento daquela porção de água.

- Quão seguro é pra mim e pra minha mulher apertar esse botão da descarga se ninguém sabe o suficiente o que acontece.

Ali ele viu toda a sua vida e todo o seu conhecimento vulnerável por conta de um abismo. Um abismo entre as coisas mundanas e as coisas sem explicação. Mais um, como o da dualidade partícula/onda. Como o movimento contínuo e misterioso dos corpos celestes. Só que agora muito mais perto dele.

Temeu pela sua vida e de sua esposa e decidiu nunca mais arriscar-se no desconhecido.

Passaram-se anos, sua mulher se cansou e pediu divórcio.

Ele continuou não puxando a descarga, até que um físico Eslovaco e cético, fazendo uma pesquisa na unidade de Quebec da Universidade de Montreal, descobriu sem querer a natureza do caos. Divulgou sua descoberta e se consagrou como um grande cientista do seu século.

O homem nunca mais se casou. Com o tempo e a experiência, D-us encheu o seu espírito de conhecimento, que nunca se vira desde os Reis Longevos varão tão sabido e letrado. E ele se tornou um grande inventor de invenções. Muitas coisas que existem hoje foram pensadas por ele ou só foram possíveis depois das suas descobertas.

Um comentário:

Viviane disse...

Olá, caro bom escritor. Desculpe-me pelo ato invasivo, mas ao ler tal postagem, me obriguei a vir comentar.

Sendo direta, devo dizer-lhe que você resumiu os meus, talvez, principais pensamentos. Nasci para servir à ciência e, hoje, vivo em busca disso. Infelizmente, pouco posso afirmar sobre a mesma, mas acredito um dia poder mudar. Nesse dia, então, creio conseguir comentar mais devidamente esse post, que nem merece esse comentário que escrevo no momento, mas digo que seu post aborda pensamentos muito polêmicos, como você bem sabe.

O pensamento humano é algo tão profundo e abstrato que eu acredito que a "ciência" psicologia não tenha chego nem na superfície de tudo que isso engloba e, indo mais adiante, eu não sou muito adepta a ela (isso é segredo nosso, minha irmã tá no segundo ano do curso ;P). A religião talvez no sirva como um conselho, conselho para alguém que não sabe compreender a própria mente. Vixi, viajei... Está na hora de parar com o ópio! xP

Bom texto, bom blog, boa escrita! Parabéns, acho que você ganhou uma leitora! ;)